Reconhecendo a parditude: Consciência mestiça na sociedade brasileira – por Beatriz Bueno

É possível se afirmar mestiço, compreender a experiência e ainda combater o racismo. A parditude é real, legítima e merece ser reconhecida e respeitada

Parditude. Você já ouviu falar desse termo? Ele busca categorizar a racialidade de pessoas fenotipicamente mestiças nos estudos das relações étnico-raciais brasileiras. Em um país marcado pela miscigenação e pela complexidade das relações étnico-raciais, entender o significado e a importância da parditude é essencial.

Ao longo da história, diferentes grupos étnicos têm investigado suas vivências dentro da sociedade. O conceito de negritude, por exemplo, busca dar visibilidade às experiências das pessoas negras. Já a Parditude destaca as realidades enfrentadas por aqueles que se encontram no “meio termo” racial.

As pessoas mestiças no Brasil sempre foram objeto de observação pelo olhar externo. Em determinado momento da história, foram usadas para promover o embranquecimento da população, sendo estigmatizadas como degeneradas. Hoje em dia, as pessoas mestiças se veem no centro de uma disputa ideológica, sendo obrigadas a se categorizar apenas entre branco e negro. Diante desse cenário, é crucial que as próprias pessoas pardas investiguem suas experiências. Assim nasce a Parditude.

A Parditude abrange uma série de experiências e desafios:

1 – Ambiguidade Racial: Pessoas mestiças, resultado principalmente das misturas afro/euro/indígena, vivem situações de não pertencimento sociorracial.

2 – Exclusão e Silenciamento: A sensação de “não lugar” causa apagamento de ancestralidade e constrangimentos sociais, levando a consequências psicológicas graves.

3 – Identidade em Questão: O constante questionamento sobre a própria raça e a pressão para se autodeclarar de uma forma específica.

4 – Luta pela Identidade: Mesmo ao escolher se autodeclarar como branco, negro, indígena ou pardo, há sempre questionamentos externos, pois sua aparência física não é objetiva e cada um afirma o que pensa de acordo com as próprias ideologias e percepções.

5 – Exclusão nas Políticas Públicas: O direito de cota é negado em diversas bancas de heteroidentificação do país, pois não é considerada a aparência ambígua, ignorando a vulnerabilidade social histórica do grupo mestiço.

É importante ressaltar que a diversidade das pessoas pardas no Brasil inclui misturas de branco e negro (mulatas), indígena e branco (caboclas) e outras origens junto dessas. No entanto, mesmo com essa variedade, a experiência vivida por essas pessoas as aproxima muito, pois são causadas pelo fenótipo mestiço, gerado da união entre pessoas de grupos socialmente desiguais por razões históricas.

Gloria Anzaldúa, em sua obra “Borderlands/La Frontera: The New Mestiza”, introduz o conceito de consciência mestiça, que pode ser relacionado à parditude. Essa consciência envolve a aceitação e a valorização da mistura de culturas e identidades, reconhecendo que a diversidade é uma força e não uma fraqueza. No contexto brasileiro, a consciência mestiça contribui para fortalecer a identidade dos pardos, permitindo que eles se afirmem.

É possível se afirmar mestiço, compreender essa experiência e ainda combater o racismo na sociedade brasileira. A parditude é real, é legítima e merece ser reconhecida e respeitada como parte da diversidade étnico-racial do país.

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