Parditude é um projeto de pesquisa e uma comunidade que busca somar forças ao Movimento Negro, integrando as experiências multirraciais à luta antirracista no Brasil. O objetivo é abordar as especificidades das vivências mestiças, tanto no âmbito subjetivo quanto nas dinâmicas familiares, promovendo uma interseccionalidade que amplie o diálogo e fortaleça a inclusão.
Parditude nasceu para responder a questões essenciais:
Como conciliar a busca por justiça racial com a valorização da multirracialidade?
Como evitar a perpetuação da ideia eugenista da hipodescendência, que apaga e nega as experiências multirraciais e ainda sim atuar de forma antirracista?
Defendemos uma abordagem que reconheça a experiência multirracial sem fragmentação ou invisibilização. Somos contra mentalidades de branqueamento, por isso acreditamos na importância de resgatar memórias indígenas e africanas que compõem nossa história e identidade e foram massacradas ao longo da história.
Nosso compromisso é com uma visão antirracista que contemple a diversidade e o contexto único do Brasil, promovendo a união entre pretos e pardos. No entanto, questionamos a hipodescendência como única forma de estabelecer essa união, pois ela pode apagar as complexidades das vivências multirraciais.
Parditude busca somar à luta por igualdade racial, ampliando o diálogo e construindo caminhos inclusivos e transformadores.
Nossa Causa
Vivemos, hoje, uma polarização no debate sobre questões raciais. De um lado, movimentos mestiços de direita negam a existência concreta do racismo, desconsideram o impacto das ideologias de branqueamento e se posicionam contra políticas afirmativas, como as cotas raciais. De outro, o movimento negro de esquerda, com sua relevante e histórica luta contra o racismo, adota a hipodescendência como solução única, desconsiderando a complexidade da realidade multirracial do Brasil, o país mais miscigenado do mundo.
Essa abordagem tenta implementar modelos monorraciais nos quais somos apenas brancos, indígenas ou negros, validando categorizações rígidas e puristas que não correspondem à diversidade multifacetada da nossa sociedade.
Nesse cenário, os corpos híbridos se tornam alvos de disputas. Muitos pardos enfrentam, além do racismo já comprovado estatisticamente, crises de identidade, exclusão e uma sensação constante de não pertencimento. Além disso, sofrem injustiças, como recusas em bancas de heteroidentificação, que frequentemente desconsideram a complexidade de suas vivências e seus fenótipos ambíguos.
Parditude surge como uma proposta de vanguarda para mostrar que é possível reconhecer e valorizar os corpos mestiços sem abrir mão de uma luta séria e comprometida contra o racismo. Nosso propósito é construir um caminho que acolha a pluralidade de experiências e promova uma justiça racial inclusiva e transformadora para todos os grupos.
Nosso impacto pelo Brasil
Fanny Neres“Hoje quero ser apenas quem sou e "parditude" me da um quentinho no coração pois não me sinto só.”
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Depois dos 18, comecei a morar sozinha em MG e a conviver principalmente com amigos brancos. Com o tempo, eles passaram a me chamar de preta, e eu abracei essa identidade. Isso foi por volta de 2019, quando o debate sobre 'pardo ser papel' estava em alta. Me reconheci como preta e me engajei na causa.
Eu estava confortável nesse lugar até me mudar para o Rio de Janeiro, em 2021, onde passei a ser vista por muitos como branca. Isso me causou uma enorme confusão e uma crise de identidade dolorosa.
Dois momentos me marcaram muito. Uma vez, estava com um grupo de amigos e, no mesmo dia, uma pessoa branca me chamou de preta e, em outro momento, uma pessoa retinta me chamou de branca. Em outra ocasião, no trabalho, surgiu um debate sobre cor e raça. Quando me afirmei como preta, riram de mim — alto. Foi humilhante.
Essas situações, entre outras, me levaram a crises de ansiedade.
Meus pais se separaram quando eu tinha quatro anos. A família da minha mãe é preta e indígena, a do meu pai, branca e descendente de italianos. E hoje eu consigo ver que meu tratamento era diferente nas duas famílias. A vivência Parda sempre esteve aqui e só depois do parditude eu consegui fazer essa análise, consegui entender meu tratamento diferente desde minha criação até os dias atuais e essa compreensão enfim, me trouxe paz.
Se antes eu esperava que alguém afirmasse minha raça, hoje eu me entendo como parda e é um puta conforto!
Ser pardo no Brasil É ter leituras diferentes a depender da vivência de cada pessoa, da época do ano e do estado que se mora. E hoje eu simplesmente não espero aprovação de nada, eu entendo minhas passabilidades, não sendo retinta e entendo aonde meus acessos são negados, pois não sou uma pessoa branca. Hoje quero ser apenas quem sou e "parditude" me da um quentinho no coração pois não me sinto só.
Obrigada por falar por nós Beatriz, todos merecemos nosso lugar no mundo e você e seu projeto me ajudaram a encontrar o meu!♡
Luiz Bariccatti“Sou imensamente grato a ela e à Parditude por me ajudarem a enxergar as diversas facetas da multirracialidade.”
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A Parditude influenciou minha vida em todos os aspectos. Beatriz Bueno me trouxe uma identificação que eu nunca tinha encontrado, não só pela forma como fala, mas pelo impacto psicológico e social do que ensina.
Através dos conteúdos que ela compartilha, aprendi que ser um movimento multirracial é uma prática de libertação. Beatriz me mostrou que posso ser quem eu quiser e me ensinou coisas que eu achava que já sabia, mas de uma forma encorajadora e transformadora.
Sou imensamente grato a ela e à Parditude por me ajudarem a enxergar as diversas facetas da multirracialidade. Hoje, sinto que estou em um caminho de evolução e libertação.
Eu sou e sempre serei eternamente grato a essa rainha da libertação, obrigado Beatriz Bueno, e obrigado Parditude!
Josi Annacleto"Eu sou uma pessoa completa, precisei de todos os meus ancestrais para estar aqui hoje, e essa compreensão me renovou de uma forma surreal."
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Eu cresci sem ter dúvidas sobre quem eu era. Nunca foi um motivo de questionamento para mim; sempre me entendi como uma pessoa parda. Sempre foi algo natural, mas, alguns anos atrás, quando começaram a dizer que pardo não existe, que é apenas um papel, foi como se tirassem minha identidade.
Eu estava começando a aprender mais sobre os efeitos do racismo na nossa sociedade de forma mais profunda e me senti em um completo limbo. Senti que, para reconhecer os efeitos do racismo, precisava aceitar o que estavam dizendo, e naquela época não conhecia ninguém que falasse o contrário. Por muito tempo, entrei em um conflito interno que me causou muito sofrimento. Questionei o que eu sabia, quem eu era... Quando tiram sua identidade, isso afeta profundamente a autoestima.
Por fim, resolvi me afastar de tudo e simplesmente parar de pensar no assunto — até que conheci seu trabalho. Senti que foi um resgate daquele limbo em que eu estava.
Seu trabalho foi uma inspiração para me conectar com todas as minhas raízes e deixar o julgamento de lado. Eu sou uma pessoa completa, precisei de todos os meus ancestrais para estar aqui hoje, e essa compreensão me renovou de uma forma surreal.
Deivid Aquino"Esse processo foi o que me permitiu alcançar a liberdade de me expressar exatamente como sou."
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O impacto da Parditude na minha vida foi o despertar de dúvidas muito específicas. Desde os comentários que apagavam partes da minha identidade até a tentativa de me encaixar em uma única etnia. Quando perguntavam quem eu era, sempre havia uma resposta única e reducionista: preto, por causa do cabelo; amarelo, pelos olhos; branco, pelo tom de pele.
Eu não entendia por que tinha famílias tão distintas etnicamente, mas que ainda assim faziam parte da minha vida. Em certo momento, cheguei a pensar que fosse adotado — um pensamento contraditório para alguém pertencente a uma família mestiça. Sentia um deslocamento constante, pois as discussões sobre identidade sempre giravam em torno de outros grupos raciais, nunca sobre a experiência parda.
Mas, além das dúvidas, também vieram as descobertas, a admiração e uma maturidade cultural e histórica que fui adquirindo com o tempo.
Esse processo foi o que me permitiu alcançar a liberdade de me expressar exatamente como sou.
Aya Libarino"Foi quando um dia apareceu um post da página Parditude, e foi como encontrar um farol que me guiou para encontrar meu caminho de conexão de volta comigo mesma."
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Hoje tenho plena consciência da minha multirracialidade, mas essa compreensão não veio fácil. Foi um longo processo de autoconhecimento e investigação para entender meu lugar no mundo. Durante muito tempo, vivi em um limbo identitário, sem pertencimento. Eu não era considerada "preta o suficiente" para ser aceita nos grupos de pessoas negras e, nesses espaços, sempre enfrentava resistência e invalidação.
Ouvi incontáveis vezes: “Você não é preta, você é índia.” “Seu cabelo nem é crespo.” “Você é café com leite.” E até comentários cruéis, como “cor de bosta”.
Essas palavras me feriam profundamente. Me deixavam confusa. Onde, afinal, era o meu lugar?
Mesmo me autodeclarando preta, nunca parecia ser o suficiente. Mas ao mesmo tempo, eu sentia que essa identificação anulava uma parte de mim e da minha ancestralidade.
Foi então que decidi investigar minha árvore genealógica. Comecei a conversar com meus pais, avós e a analisar fotografias antigas. Foi nesse mergulho na história da minha família que identifiquei ancestrais indígenas, negros e brancos, tanto do lado materno quanto paterno. Mas, mesmo com todas essas informações, ainda me sentia presa em uma fronteira entre etnias. Eu não poderia me resumir a apenas uma delas—porque eu era todas elas ao mesmo tempo.
Então, como me definir?
Foi quando um dia apareceu um post da página Parditude, e foi como encontrar um farol que me guiou para encontrar meu caminho de conexão de volta comigo mesma.
A identificação foi instantânea. Pela primeira vez, senti que havia um espaço para mim. Passei a me sentir confortável em me afirmar parda, um termo que sempre esteve ali—inclusive na minha certidão de nascimento—mas que eu evitava usar, porque diziam: “Pardo é papel, essa etnia não existe.”
Por muito tempo, achei mais aceitável me declarar negra ou preta. Mas sempre havia aquela sensação de que eu estava apagando parte de mim.
Foi só quando entendi que me afirmar como parda não anulava quem eu sou, mas sim englobava todas as minhas ancestralidades, que finalmente me senti completa.
Ser parda não é um meio-termo, uma indefinição. Ser parda é quem eu sou. É a minha história, a história da minha família.
Hoje, meu coração está em paz. E devo essa clareza à Beatriz Bueno, pelo seu trabalho incrível e necessário, que trouxe luz ao meu processo de autoconhecimento.
Sucesso, Bia. E obrigada!
Lucas Chaves"Pela primeira vez, minhas percepções sobre mim e minhas vivências não foram questionadas — foram respeitadas e validadas."
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Na escola, eu sempre era tratado como feio, e meu cabelo era motivo constante de piada.
Com o tempo, passei por situações de racismo mais explícitas. Algumas vezes, fui chamado de "mulatinho" de forma pejorativa. Mas foi quando me mudei para Fortaleza que comecei a sentir o preconceito na pele de maneira ainda mais intensa. Talvez pelo fato de a cidade ter uma população negra relativamente menor que outros grandes centros do país, os pardos acabam sendo alvos ainda mais frequentes do racismo.
Ser seguido por seguranças em shopping virou rotina. Algumas situações foram ainda mais constrangedoras, como o dia em que um motorista de aplicativo cancelou a corrida assim que me viu ou quando um policial passou devagar na viatura, me encarando de cima a baixo.
A cada ano, eu voltava a Belo Horizonte para visitar minha família. E toda vez, no aeroporto, já sabia o que me esperava: um segurança andando como minha sombra e a "revista aleatória" que nunca falhava.
Muitas pessoas tentavam minimizar tudo isso. Diziam que não era racismo, que eu era parado no aeroporto por ter "cara de árabe". Mas então eu me perguntava: Se é por isso, não continua sendo racismo?
Minha identidade também era constantemente questionada. Na universidade, pela primeira vez, fui chamado de branco — por uma colega negra. Quando disse que me considerava pardo, ela se sentiu ofendida e disse que eu estava desrespeitando o movimento negro.
Foi aí que comecei a perceber como o conceito de racialização estava extremamente rígido no meio acadêmico e nos movimentos sociais. Como se o mundo fosse um tabuleiro de xadrez, onde só existissem brancos e pretos.
E quem não seguisse essa cartilha era automaticamente visto como racista — até chamado de fascista.
Com o tempo, isso começou a me desgastar. Me isolei dentro da universidade e acabei desenvolvendo um quadro de depressão severa.
Não lembro exatamente quando ou como encontrei a Parditude, mas quando vi as publicações da Beatriz, senti um acolhimento que nunca havia experimentado antes.
Pela primeira vez, minhas percepções sobre mim e minhas vivências não foram questionadas — foram respeitadas e validadas.
E foi ali que, enfim, pude me sentir aceito.
Erik Alves
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Antes de conhecer a Parditude, eu vivia em um limbo, sem saber a qual identidade racial pertencia. Sempre tive altos e baixos em relação à minha aparência. Já me enxerguei como branco, já me enxerguei como preto. No inverno, minha pele ficava mais clara, e eu gostava disso — aproveitava para usar roupas que combinassem com aquele tom. No verão, ficava mais bronzeado e também apreciava essa versão de mim. Mas houve momentos de extrema confusão. E muito disso aconteceu porque a sociedade simplesmente não debate sobre pessoas pardas.
Quando criança, sofri muito racismo por ter traços largos como os do meu pai — especialmente pelo meu nariz. Na escola, me chamavam de macaco, e isso me causava um sofrimento profundo. Já adulto, ouvi algo semelhante de uma pessoa próxima da minha família.
Essas palavras racistas sempre me jogaram em um lugar sombrio e solitário.
Na minha família, apesar de todo o amor que sinto por eles, também vivi a dura realidade de ser pardo. Um parente já me disse que eu "tinha tudo para ter cara de rico", porque meu cabelo era liso (alisado com química) e minha pele era clara, mas que meu "nariz de negão" estragava tudo. Situações como essa me abalaram profundamente e aumentaram minha confusão.
Cheguei ao ponto de rejeitar completamente qualquer traço negro em mim. Durante dois anos, passei a me considerar apenas branco. Usava Acnase para remover as espinhas, mas também porque percebia que clareava meu rosto — e isso me deixava feliz, pois me afastava ainda mais das características negras. Mas essa ilusão nunca durava muito tempo. Logo, sofria racismo novamente.
E então eu pensava:
"Se eu sou branco, por que sofro racismo?"
Foi passando por essas situações que voltei a me enxergar como preto.
Com o tempo, ao me envolver em coletivos com pautas políticas, conheci pessoas dos movimentos negros. Ali, fui automaticamente diagnosticado como preto. Me disseram que eu não poderia mais me enxergar como moreno — e menos ainda como branco. Eu era preto e ponto final.
Acolhido por aquele discurso, mergulhei na luta antirracista com todas as forças. Me ensinaram que racismo só existia de branco contra preto e que eu deveria rejeitar tudo o que fosse "coisa de branco". Comecei a agir assim. Em qualquer discussão com alguém de pele mais clara, soltava um "tinha que ser branco". Evitava amizades com pessoas brancas e até com pardos que me ensinaram a enxergar como brancos.
Mas bastou que eu compartilhasse minhas experiências de racismo para que o mesmo movimento que me acolheu começasse a me confrontar.
Caíque Santos"Eu não busco cotas. Não busco validação. Busco apenas saber e valorizar quem eu sou, de onde eu venho. Essa batalha, eu já venci dentro de mim — abraçando tudo o que me compõe. Parditude me ajudou muito a compreender isso."
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Na Bahia, o pardo é muitas vezes considerado branco. É desse lugar que eu falo. Nasci em 1999 e, doze anos depois, um acidente me deixou acamado tempo suficiente para meu cabelo crescer — e foi assim que, pela primeira vez, eu realmente o conheci. Até então, ele sempre tinha sido raspado na máquina zero. Deixar crescer meu black não foi uma escolha consciente, aconteceu por acaso, numa época em que a onda de autoafirmação ainda não estava na mídia. Todas as mulheres de cabelo crespo que eu conhecia alisavam os fios. Mas, assim que me vi no espelho com o novo visual, gostei.
Enquanto meu cabelo crescia, as perguntas se multiplicavam: Por que não corta? É promessa pro santo? Foi aí que comecei a me questionar: dá para ser branco com uma ressalva permanente como essa? Branco do cabelo duro. Não guardo mágoas do que ouvi sobre meu "cabelo ruim" — eram apenas opiniões. Mas nunca me permiti esquecer como tudo foi mudando aos poucos, graças a Deus.
Hoje, pode parecer conveniência cultivar meu cabelo enrolado, como se isso não viesse com um peso, um ônus, um desconforto permanente por não poder simplesmente ser quem sou. Cresci sendo visto como uma criança branca em todos os ambientes até o início da adolescência. Abrir mão dessa “conquista” pode parecer insano. Como se meus parentes tivessem pavimentado uma estrada para mim, e eu escolhesse seguir pela estrada de barro.
Mas eu não vejo assim. Meu pai, um homem negro cafuzo, sempre foi um exemplo de excelência. Me declarar branco apenas porque minha pele é clara seria abdicar de um legado.
A raiz indígena da minha família materna praticamente se perdeu. Meus parentes próximos desse lado são brancos, e nunca me afirmei indígena, embora minha família esteja enraizada há séculos nessa terra do interior da Bahia. Somos descendentes dos nativos aculturados cedo demais, apagados cedo demais. Eu não pertenço a esse povo. Mas também não pertenço ao povo negro, embora minha cultura seja a cultura mestiça dessa Bahia que vai além de Salvador: cultura do Recôncavo, cultura sertaneja, cultura de um Brasil misturado.
Não admito que toda essa herança desapareça com uma autodeclaração forçada só porque esperam que eu diga que sou branco. Porque querem que eu esqueça o passado.
Eu não busco cotas. Não busco validação. Busco apenas saber e valorizar quem eu sou, de onde eu venho. Essa batalha, eu já venci dentro de mim — abraçando tudo o que me compõe. Parditude me ajudou muito a compreender isso.
Glauco de Arruda"A Parditude me ajudou a enxergar todas essas nuances e a entender minha identidade, mesmo chegando a essa reflexão já na maturidade."
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Meu nome é Glauco de Arruda Barlebem, tenho 65 anos. Descobri apenas aos 62 que fui adotado e nunca soube quem são meus pais biológicos. No entanto, um teste de ancestralidade confirmou o que eu já intuía: apesar da pele clara, meus traços e meu cabelo sempre sugeriram uma herança negra.
Lembro-me de um episódio na pré-adolescência, quando conversava com um colega de classe sobre racismo. Ele, branco, em certo momento disse: "Apesar de não ser branco, você também não é muito preto..." Cresci ouvindo dos adultos da minha família que eu era branco, então aquela fala me confundiu: "Por que ele acha que eu não sou branco?" Eu era apenas um garoto, mas aquela dúvida ficou comigo.
Alguns anos depois, um amigo preto me perguntou por que eu frequentava bailes onde a maioria dos jovens eram negros. Respondi que, pelos meus traços e cabelo, certamente tinha antepassados negros, e que ser negro estava no sangue. Ele rebateu com firmeza: "Não. Ser negro está na cor da pele."
Foram anos tentando compreender onde eu me encaixava. A Parditude me ajudou a enxergar todas essas nuances e a entender minha identidade, mesmo chegando a essa reflexão já na maturidade.
Thamires Sousa"Quando parditude apareceu eu abracei todas as minhas raízes e me identifiquei como parda finalmente! "
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Parditude veio como uma ferramenta indispensável pra o meu auto entendimento! Nunca me vi branca e muito menos preta, e isso se ressoou a minha volta como um zumbido fino e incômodo. Principalmente em 2024 entendi que as pessoas me viam como plural e eu mesma não aceitava isso.
Quando parditude apareceu eu abracei todas as minhas raízes e me identifiquei como parda finalmente! Frases como "falsa preta" ou "não é seu lugar de fala" não me incomodam! E eu entendo finalmente o que ser pertencer a minha dentro das minhas raízes plurais!
Minha cor sempre foi uma questão então todos queriam dar uma resposta. Ouvi coisas como "você é assim por que é doente, não come direito e fica amarela " ou "ah é só por que você pegou sol" mas principalmente associada a minha saúde (ou a falta dela)
Entender através do parditude a inconstância da nossa cor foi essencial! Não me comparar a pretos ou brancos mas saber que minha cor é ÚNICA
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